SECRETARIADO EM FOCO: SUSTENTABILIDADE DA PROFISSÃO

 

Não tenho como esconder de vocês que tratar de sustentabilidade sob seus aspectos diversos e mais precisamente da sustentabilidade da profissão de Secretário é altamente instigador e desafiador. Mexeu com minha zona de conforto e deixou-me por inúmeras vezes muito introspectiva.

Inicio minha palestra apresentando-lhes o lugar que ajudou a moldar a pessoa que sou hoje. Apresentar a vocês minha leitura de mundo. Em que está amparada? Na minha história de vida. Sim, torna-se importante clarificar este lugar porque certamente temos aqui no auditório pessoas que veem esta temática sob outra ótica, outro referencial, outro ângulo.

Nasci em 1960. Eu sou a quarta geração – do lado materno - de uma família alemã colonizadora de Blumenau, em Santa Catarina, vinda para a região em 1847. Os meus avós enfrentaram alguns resquícios da II Guerra Mundial, quando não se tinha o excedente. Apenas o suficiente. Aprendia-se a guardar para amanhã. Isso fez com a minha avó fosse muito cuidadosa ao se desfazer de algo. Por que jogar fora se ainda pode ser útil?

Aprendi a plantar flores, rosas cor de rosa eram minhas favoritas. Os adultos trabalhavam demais durante a semana. Nos finais de semana, o lazer contribuiu com a fundação de clubes de Caça e Tiro e de bolão.

Essas experiências vividas ajudaram-me a definir meu jeito de ser e fazer. Ou seja, de que sempre terei que fazer o meu melhor para honrar essa minha linhagem materna de respeitarmos a terra.

A partir deste meu contexto, trouxe comigo a máxima do “desperdício zero”, com a qual convivi fortemente no mundo profissional. Era fazer mais com menos recursos, para viabilizar financeiramente a empresa. Sempre trabalhei sob a pressão da redução de custos, sem esbanjamento, muito controle de gastos.

Além da máxima do desperdício zero, vivenciei outra: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo.” Estou aqui falando dos anos 70, por volta de 1976, eu com meus 15 anos de idade, aprendendo a ser alguém no mercado de trabalho.

Lembro-me que as crises no cenário econômico e produtivo brasileiro eram constantes. A exemplo do que acontece atualmente. Isso deixa os dirigentes com os nervos a flor da pele, exigem cada vez mais produtividade e desempenho máximos. Requer de nós profissionais paciência, tolerância; contrapor-se às diferenças de opinião e ações com respeito, conhecimento e discrição. Vai sobreviver o profissional que tiver pique, que tiver um diferencial: fazer e dar sempre o seu “melhor”. Não o “possível” e sim o melhor.

Outro momento marcante foi durante meu Mestrado, nos anos 90, quando tive a alegria imensa de ter como Professor, o Doutor Ubiratan D´Ambrósio, educador matemático brasileiro e internacional. Um defensor de se promover uma cultura planetária, uma educação multicultural, uma educação para a paz, capaz de eliminar as diferenças. Saíamos de suas aulas “tontos” diante de sua fala firme e ao mesmo tempo, assustadora, a respeito da situação planetária e do futuro do cosmos. Dizia-nos isso com muita humildade e respeito pela forma e linha de pensamento teórico de cada um de nós. Não tínhamos como contrapor suas afirmativas. Levei seus ensinamentos para minha vida pessoal e acadêmica.

Em particular, ficou muito evidente que cada um de nós é o que é, dentro de determinado contexto. Eu sou o que eram e são os meus relacionamentos. Você é o que foram seus relacionamentos com seu passado, o que são com seu presente, e o que serão com seu futuro. Falo aqui de nossos relacionamentos com nossos semelhantes e com a própria natureza. Falo dessa interdependência entre o ambiente e o nosso ser, entre nosso pensamento, que incorporamos por meio da percepção captada pelos órgãos dos sentidos. Essa interdependência por si só já implica/demanda um imenso respeito que devemos ter diante das diferenças, da diversidade entre os seres, das diferenças cultural e social.

O fato de sermos todos interdependentes e inseparáveis de um Todo Cósmico, onde ações nossas aqui em Maceió, desmatamentos no Pará, seca no Sudeste, enchentes no Sul, degelo no Polo Ártico, tudo impacta na natureza, em nossa realidade e na realidade do próximo, onde quer que ele esteja.

Com Prof. Ubiratan, aprendi a olhar sob uma perspectiva mais global, holística, integral, quântica. Tive que fazer, e ainda faço diariamente, um grande esforço para me afastar sempre mais de uma visão de mundo cartesiana, mecânica, que separa-nos de nossos relacionamentos, não reconhece a importância do contexto no qual estamos inseridos. Sem esse sentimento de pertencimento fica difícil convencermos alguém quando falamos de sustentabilidade.

Significa que minha fala em defesa da sustentabilidade do Secretariado sempre foi e será um produto de minha consciência de trabalhadora, de secretária executiva trilíngue, de professora universitária. Tudo em mim está revestido de meu caráter histórico; da decisão que tomei em 1976 de que seria uma Secretária Executiva Trílingue bem sucedida. De alguém que acredita na profissão! SUCESSO, para mim, é ter o reconhecimento de um trabalho bem feito, fruto da competência e de habilidades.

Assim fui para o mercado de trabalho, impulsionado por mais uma máxima, que também me acompanha desde a infância: “trabalhar para sustentar a família”.

Acredito que vocês – assim como eu -  se depararam pela primeira vez com a palavra sustentar dessa forma em suas famílias. Para se sustentar e para sustentar uma família era preciso trabalhar, ter uma ocupação, ter uma profissão.

Para lembrar: a palavra sustentável tem origem no latim “sustentare”, que significa sustentar, apoiar, conservar.Palavra que depois foi estendida da família > empresa/profissão > governos > mundo > planeta.

Mais recentemente, fui buscar em Lester Brown, um referencial para aprender sobre sustentabilidade. Lester Brown é ambientalista e fundador do World Watch Institute e presidente do Earth Policy Institute, e que escreveu em 2009 o livro “Plano B 4.0: mobilização para salvar a civilização”.

A ideia de sustentabilidade começou a ser utilizada por Lester Brown, na década de 80. Brown definiu comunidade sustentável como aquela que é capaz de satisfazer às próprias necessidades sem reduzir as oportunidades das gerações futuras.

Uma definição que vai na mesma direção do Relatório de Brundtland (1987), que aponta que o uso sustentável dos recursos naturais deve "suprir as necessidades da geração presente sem afetar a possibilidade das gerações futuras de suprir as suas".

Para o Portal da Sustentabilidade, sustentabilidade é um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. Abrange desde a vizinhança local até o planeta inteiro.

Há correntes que tratam da sustentabilidade sob três pilares,  entendendo-a como a busca pela harmonia entre: equilíbrio ambiental, justiça social e viabilidade econômica. Isso significa que envolve todos os âmbitos da vida: política, social, econômica, cultural e ambiental.

Brown chama atenção para: os desertos em expansão, o aumento do nível dos mares/oceanos e a exaustão dos aquíferos. Em se tratando das mudanças climáticas, aponta:

No século XX – nível dos oceanos subiu 18cm; no século XXI – o nível dos oceanos poderá se elevar de 90cm a 1,8m. Ou seja, trata-se da expansão dos oceanos e do encolhimento da terra. Isso também gerará o deslocamento potencial em massa de populações.

59 milhões de hectares serão afetados no Brasil (a maior parte no Nordeste), em função da desertificação (expansão dos desertos).

A temperatura da terra aumentou 0.6 grau Celsius desde 1970. Até o final do séc. XXI deverá elevar-se em até 6 graus Celsius. 

Ter-se-á o encolhimento das geleiras = derretimento das camadas de gelo. Quer dizer: as geleiras derretem e as cidades costeiras perdem terreno. E as colheitas diminuem porque a irrigação usa água do degelo. Assim como o uso doméstico da água depende de gelo derretido. 

 

Lester Brown defende que a sociedade tem um Plano B para sobreviver e reestruturar a economia global. E a convoca para trabalhar em prol de quatro metas interdependentes, quais sejam: estabilizar o clima, controlar a população, eliminar a pobreza e restaurar os suportes da natureza, como a água, o solo e o ar. O que implica combater, entre outros problemas mundiais, o aquecimento global, a degradação do solo, a ameaça à mobilidade urbana e o desmatamento/reflorestamento.

O que precisamos fazer? Segundo Brown, precisamos de um jeito diferente de pensar, uma nova mentalidade. Precisamos construir uma nova economia, que seja: alimentada por fontes de energia renováveis; um sistema diversificado de transporte; um sistema capaz de reutilizar e reciclar tudo.

Nossos países e empresas precisam abraçar a transição para uma economia verde. Porque é fato que o modelo econômico ocidental baseado no consumo de combustíveis fósseis, centrado no automóvel e em bens descartáveis, não durará muito.

Para estabilizar o clima, há necessidade de se baixar as emissões de dióxido de carbono em 80% até 2020, para minimizar o futuro do aumento da temperatura.

Temos tempo? Brown acredita que a disputa está entre a velocidade dos políticos versus a velocidade da natureza.

No Brasil, seremos capazes de acabar com o desmatamento da Amazônia antes que a região seque e se transforme em uma área desértica?

 

Será que temos consciência de nosso pertencimento ao Todo Cósmico?

Como vocês lidam – lá bem no íntimo de cada um – com uma manchete em jornal ou revista (eletrônico ou físico, não importa), que traz os estragos causados com o tornado em Xanxerê, no Oeste de Santa Catarina, em 20 de abril de 2015?

Ou, ao lerem uma reportagem sobre a fome na Somália, que já matou mais de 250 mil crianças?

Como vocês lidam com notícias sobre as vítimas da pior cheia da história do Acre, em fevereiro de 2015? Ou sobre a seca que agora coloca os grandes centros urbanos aqui do Nordeste em situação de emergência?

Qual é a sua postura pessoal frente ao desperdício de água, de alimentos, excesso de lixo orgânico? Será que você também acredita ser coisa de eco-chatos?

O que dizer diante de eventos climáticos extremos que estamos enfrentando no Brasil?

Sem sombra de dúvida, é uma reflexão que nos remete a uma responsabilidade cujo tamanho não temos noção. E de fato não temos! Querem um exemplo de como não temos consciência de nosso pertencimento a esse Todo Cósmico?

No dia 8 de julho de 2015, exatamente 5 dias antes de eu completar 55 anos de idade, minha sobrinha Emily, de 8 anos de idade, que está no 3º ano do ensino fundamental, brincava na minha casa com sua amiga Fran. Certo momento, estávamos na cozinha tomando água, e começamos a falar sobre o que elas estavam estudando. Aí, Emily disse que em Ciências estavam desenvolvendo um projeto sobre a Mata Atlântica. E eu, diante de minha sabedoria de tia, disse: Emily, você lembra que no ano passado ficamos um final de semana na casa do avô da Fran no meio da floresta? Pois é, lá estávamos dentro da Mata Atlântica.

E o que ela me respondeu? “Tia Eliane, você sabia que aqui na sua casa você tem Mata Atlântica?”

Eu: “É? Tem?”

Emily respondeu: “Vem comigo!” Saiu da cozinha e foi até meu escritório. Parou defronte a impressora, e tirou uma folha de papel A4, mostrou-me dizendo: “Tia Eliane, isso aqui é Mata Atlântica.”

Minha resposta gaguejando: “Você tem razão, Emily. Quanta Mata Atlântica eu tenho aqui em casa. E na estante de livros então?”

Então, vai a minha pergunta para nós: Quanta Mata Atlântica temos sobre o nosso colo agora?

(Só para conhecimento, somente restam 12,5% dos 1,3 milhões de km2 originais da floresta nativa da Mata Atlântica)

O fato de cutucarmos a nossa consciência de nosso pertencimento a esse cosmo ampliará nossa contribuição para a construção de um mundo mais harmonioso, mais fraterno, solidário, com consciência ecológica, relacional e sustentável.

Certamente cada um de nós tem consciência deste pertencimento, mesmo que em pequenas ações, assim como Emily tem. Pequenas ações que fazem muita diferença no todo. Fazem e farão muita diferença em nosso ambiente de trabalho.

E por falar em ambiente de trabalho..... O que a empresa em que você trabalha está fazendo para garantir ar e água limpos, solo fértil, clima estável e uma sociedade mais igualitária, menos desigual?

Alguns, aqui presentes, talvez dirão: “nada”, porque para o dirigente a sustentabilidade não passa de mais um modismo inventado por empresas de consultoria. Ainda estão na fase do “business as usual”. Para outros, causa arrepios. Outros se valem da miopia para fazer de conta que não é com eles. Por quê? Porque a ganância não lhes permite ver a finitude dos recursos naturais e fósseis.

Diferentemente dessa postura, muitos de vocês, certamente, trabalham em empresas onde a cultura da sustentabilidade já integra a estratégia do negócio. A alta administração está diretamente envolvida em sua disseminação. Em empresas que estão indo além de ações pontuais, e abarcando novas oportunidades de negócios, com procedimentos e sistemas que reduzem os impactos socioambientais e utilizam os recursos naturais de maneira adequada (reengenharia de processos).

Criaram novos nichos de negócios com um olhar para a cadeia produtiva como um todo. Ou seja, levaram em conta o ciclo de vida de produtos e serviços da produção até a disposição final de resíduos. Investem em pesquisa e desenvolvimento; na capacidade de inovação, em novos modelos de produção e gestão de negócios; no processo contínuo de capacitação dos funcionários. Sem, contudo, deixar de garantir a sua sustentabilidade econômica diante do capital financeiro e humano que tem investido e comprometido. Vai demandar profissionais responsáveis que estejam qualificados para maximizar recursos e tempo. Não haverá mais chance de improvisar no trabalho.

Com essas realidades distintas, o que dizer do valor da vida que está em risco no planeta? De nossa incapacidade como seres humanos de nos comovermos com os outros? De fecharmos os olhos para não enxergar as contradições, porque não sabemos lidar com as contradições? Isso porque a vida é feita de contradições!

As organizações, para as quais nós trabalhamos, são atingidas diretamente por esse cenário. Estão sendo convocadas a reverem sua maneira de fazer negócios. Para algumas já se tornou uma vantagem competitiva, porque a empresa que se preocupa com a sustentabilidade é vista como aquela que se preocupa com o meio ambiente e com a comunidade.

Claro, que somado a essas demandas e exigências advindas dos desafios de uma gestão sustentável, as empresas estão sendo afetadas pelo cenário atual do Brasil: um cenário nervoso, inseguro, agitado, incerto, devido às indefinições políticas e econômicas.

Como toda decisão estratégica, terá que ser implementada pela ação, pelo empenho e pela competência dos profissionais que trabalham para a empresa. Requer o estabelecimento de uma relação de confiança pautada no envolvimento e no comprometimento. E em um aprendizado contínuo. Num piscar de olhos ou num vacilo, poderemos ter nosso emprego/trabalho afetado.

Nós, profissionais do secretariado, integramos essa equipe. E temos essa responsabilidade com as gerações futuras e com a garantia de nossa empregabilidade.

Por quê? Primeiro, como seres humanos que pertencemos a esse Todo Cósmico.

Segundo, como profissionais que fizemos o juramento de exercer a profissão dentro dos princípios da ética, da integridade, da honestidade, e da lealdade; respeitar a Constituição Federal, o Código de Ética Profissional e as normas institucionais; buscar o aperfeiçoamento contínuo e; contribuir, com o trabalho, para uma sociedade mais justa e mais humana.

Terceiro, como assessores diretos dos executivos no desempenho de nossas funções, gerenciando informações, elaborando documentos, controlando correspondência física e eletrônica, prestando serviços em idioma estrangeiro, organizando eventos e viagens, supervisionando equipes de trabalho, gerenciando suprimentos e procedimentos administrativos. (baseado na CBO/2002)

Diante desse cenário em que as empresas terão de se manter sustentáveis econômica, ambiental, ecológica e socialmente, como fica a profissão de secretário?

Fazendo uma analogia com as responsabilidades que temos diante da sustentabilidade de nosso planeta, será que nós, profissionais do Secretariado, temos consciência de nosso pertencimento à profissão de Secretário?

Coincidência ou não, a sustentabilidade passou assim a ser considerada na década de 80 por Lester Brown, na mesma década em que o Secretariado foi regulamentado como profissão.

Da mesma forma que os parâmetros para garantir ações sustentáveis foram pensados e viabilizados basicamente a partir da década de 80, o Secretariado como profissão também traçou e escreveu sua caminhada mais visível na sociedade e no mundo corporativo na década de 80.

Algumas conquistas no campo profissional e acadêmico merecem ser recordadas:

Ø  regulamentação da profissão (setembro 1985)

Ø  código de ética profissional

Ø  exigência de registro profissional

Ø  formação/bacharelado em nível superior, que desencadeou:

-  abertura de cursos superiores de Secretariado em âmbito de Brasil

- necessidade de professores de Secretariado

- programas de extensão universitária na área

- pesquisa científica em Secretariado (ABPSEC)

- surgimento de Revistas Científicas

- eventos de Secretariado (estudantes, profissionais, professores, pesquisadores)

- estabelecimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Graduação em Secretariado (2004)

- exame do ENADE

- criação de cursos de pós-graduação Lato Sensu

Ø  a abertura de inúmeros cursos de aperfeiçoamento profissional por diversas entidades e instituições. 

 

São conquistas que resultaram do empenho, do envolvimento, do comprometimento de pessoas que tinham um profundo senso de pertencimento com o Secretariado. Em minha opinião, são 30 anos que merecem ser comemorados pela categoria. Eu, particularmente, tenho muito orgulho de ter contribuído, do meu jeito, no meu espaço, dessas conquistas.

No mesmo instante que vibro com as conquistas, fico aflita em querer visualizar o futuro da profissão. Como serão os próximos 30 anos? Como estará o Secretariado em 2045?

Infelizmente não me vejo competente para traçar tendências para o Secretariado, em virtude do fato de estarmos vivenciando um cenário nunca antes vivido. Que cenário é esse?

     O cenário atual da profissão – vista sob as minhas lentes - diz-me que estamos vivendo uma crise de pertencimento, que está começando a fragilizar o Secretariado como profissão. Sim, quero dizer que o Secretariado está em crise. Ainda invisível para alguns, é verdade! Mas já há sinais dessa crise de pertencimento estampados em diversas situações.

 

     Atrevo-me a cutucar vocês com algumas situações que particularmente me afligem.

1.    Como você lida com o fato de ter que trabalhar ao lado de um profissional exercendo atividades de Secretariado e Assessoria Executiva sem o registro profissional?

2.    Como você lida com um convite para integrar uma chapa e participar da eleição da próxima diretoria do Sindicato de Secretariado de seu Estado?

3.    Como você lida com o fato de trabalhar subordinado a uma secretária executiva com mais de 35 anos de experiência, porém sem a graduação em Secretariado?

4.    Como você reage ao saber que os docentes do curso de Secretariado no qual você está matriculado, estão fazendo outra graduação, porque querem desistir da profissão? 

 

Também fiz minha reflexão sobre os indícios que sinalizam a crise de pertencimento do Secretariado, e vou verbalizá-los agora para vocês:

Ø  A sociedade não reconheceu o Secretariado como profissão. Não atingimos nossa maturidade como profissão, apesar dos 30 anos de regulamentação. Verdade é que considerável proporção dos próprios profissionais/bacharéis não conseguiu atribuir valor ao título. No subconsciente organizacional ainda persiste o entendimento de se tratar de uma “ocupação”, como descreve a CBO-2012, no código de família > Secretárias(os) Executivas(os) e afins – 2523.

Ø  A regulamentação não conseguiu dar força e sustentação à carreira em Secretariado. É recorrente vermos profissionais graduados traçando suas carreiras, a partir da sua “ocupação” nas empresas, desatrelando-as da profissão de Secretário.

Ø  O registro profissional ainda é exigência feita por poucas empresas. A maioria fecha os olhos para a questão da legislação. E faz isso com a conivência do bacharel em Secretariado.

Ø Iniciativas isoladas – a exemplo das questões ambientais e ecológicas - conseguem manter o Secretariado vivo e presente no mundo corporativo, porém sem avançar. Entidades de liderança sindical, universidades, professores, estudantes, profissionais graduados, pesquisadores, cada um fazendo sua parte, porém com muita dificuldade de encontrarem o eixo norteador que conduzirá a uma direção única. Precisamos conversar mais. O todo é maior e mais forte. Precisamos amarrar as pontas, que infelizmente continuam soltas desde a regulamentação profissional. E parece-me que estão cada vez mais soltas. Sinto que estamos perdendo a consistência ao debater a profissão. É a crítica pela crítica, sem nenhuma contribuição consistente.

Ø  Os jovens bacharéis em Secretariado gritam e brigam pela sua inserção no mercado de trabalho. Mas não gritam e nem brigam pelo Secretariado em si, enquanto profissão constituída que é. Estamos vivendo uma crise de pertencimento – da mesma forma que nos omitimos com relação às mudanças climáticas (como algo distante de nossa realidade, algo inatingível), a geração jovem do Secretariado se omite das responsabilidades de se comprometer com a profissão. Tem muita dificuldade de se perceber no contexto da empresa como profissional do Secretariado.

Ø  As instituições formadoras, de ensino superior, infelizmente, também não têm conseguido se comprometer institucionalmente com a profissão de Secretário. Até hoje a maioria dos resultados positivos tem sido mérito de docentes fortemente comprometidos e com um alto grau do senso de pertencimento. É triste termos que assistir e tomar conhecimento de que professores de Secretariado estejam fazendo outras graduações porque desistiram do Secretariado. Cadê o senso de pertencimento com a profissão? Pergunto-me: com que senso de pertencimento ministram suas aulas?

Ø  Aliado a isso, estamos assistindo a um esvaziamento dos cursos de Secretariado Executivo.

 

Enfim, são indícios de que estamos vivendo uma crise de pertencimento no Secretariado. Estamos nos comportando tão selfies e vivendo virtualmente conectados/plugados, sendo curtidos por nossos sentimentos e emoções, que perdemos a verdadeira noção de “pertencer”, de se sentir integrante, de se envolver, de se comprometer.

Dói muito ter que afirmar isso em uma época em que as inovações tecnológicas de comunicação e informação estão tão presentes em nosso cotidiano profissional e pessoal. Por outro lado, deram-nos tanta ilusão de autossuficiência que nos fizeram esquecer de que somos parte de algo maior. Hoje, evitamos o envolvimento, privilegiamos o distanciamento. Não queremos mais contato face to face, e servir o outro. Queremos estar em tudo, a distância.

A crise de pertencimento gera a onda do descartável, do desapego: nos relacionamentos, nos empregos, com as pessoas, com o conhecimento construído, com a história de vida vivida.

 

Como então vamos dar conta de abafar/diminuir essa onda de falta de pertencimento no Secretariado?

 

Vejo somente um caminho...... por intermédio de um amplo processo de EDUCAÇÃO. É o caminho que nos ajudará a reconstruir uma consciência coletiva na criação do sentimento de pertencimento. E aqui clamo pelo real comprometimento das três instâncias de educação:

 

Educação formal: aquela educação que é dada ao ser humano sempre sistematizada e, principalmente, apoiada no sistema. Ela é metódica, intencional, consciente. No caso de Secretariado, deve ser entendida como a formação de técnicos, tecnólogos e bacharéis, nos respectivos níveis de ensino vigentes no Brasil.

Educação não formal: que até pode ser intencional, mas não é e não está inscrita na escolaridade como a formal, que é obrigatória, conforme a Constituição Federal.

Educação informal é aquela que se dá completamente desvinculada de qualquer método, de qualquer sistema.

 

 Nenhuma dessas instâncias da Educação poderá ficar de fora, porque a instância que se excluir prejudicará o processo como um todo. Fragilizará o avanço.

A educação foi, é e sempre será o condutor a uma situação “ideal” da profissão de Secretário. Nada se constrói, ou se reconstrói sem educação. Só avançaremos no Secretariado, e com o Secretariado, pelo viés da educação. A educação é a chave para abrir caminho para a excelência pessoal, social e profissional, e que nos permite buscar sermos melhor hoje do que ontem. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Estamos nos educando continuamente. Afinal, o ser humano é um ser inacabado, está sempre em construção.

Defendemos aqui um processo de educação que proporcione uma leitura de mundo, o desenvolvimento da capacidade da pessoa de se engajar em projetos e ações, consciente de sua responsabilidade social e ética; consciente da necessidade de aprender a aprender e saber pensar, para poder agir e ajudar a transformar o contexto no qual está inserida.

Além disso, e primordialmente falando, de um processo de educação que desenvolva na pessoa qualidades que incluem uma visão mais ampla, baseada em valores, princípios, propósito da vida, compaixão, disposição de servir. Refiro aqui ao capital espiritual (baseado em Danah Zohar, em seu livro Capital Espiritual), entendido como a inteligência espiritual, ou seja, a inteligência com que somos. (O que sou).

Trago aqui a defesa de uma educação em sentido amplo para o Secretariado, porque a crise de pertencimento que vivemos no Secretariado vai muito além da formação acadêmica, que é atestada com a emissão do diploma de bacharel. A crise de pertencimento inicia-se no descaso da educação de base, com a ausência na criação de valores humanos no contexto familiar e na escola básica. A educação formal (técnico e bacharel) sozinha não dará conta de romper, de estancar a crise de pertencimento a que me refiro. Até porque também já atingiu parte do corpo docente em nossas instituições de ensino.

Defendemos uma educação que vá construir uma consciência ampliada desse pertencimento tanto ao Todo Cósmico como ao Secretariado enquanto profissão.

Por onde começar? Provavelmente alguns de vocês estejam se fazendo essa pergunta.

Eu - que, pessoalmente, sempre fui muito pragmática - afirmo: só conseguiremos criar esse senso de pertencimento se – entre nós – surgir uma liderança com credibilidade e capacidade para aglutinar e mobilizar todas as partes soltas em um direcionamento comum de pertencimento.

Quem sabe esteja aqui, hoje, no meio de nós, essa jovem liderança? Uma liderança capacitada e qualificada: técnica, metodológica e moralmente. Sim, porque deverá ser uma pessoa íntegra, com sabedoria para “ser um líder a serviço de ....”.

Ah! Professora, com isso a senhora está querendo dizer que as lideranças de sua geração carecem dessas qualificações? Não, não é isso que eu disse e quero dizer. Muito pelo contrário! Minha geração teve e tem competência para fazer isso, tanto que já conduziu a profissão até o patamar/estágio que está. Mas como ninguém é eterno na terra, precisamos de pessoas da geração jovem para continuar a tarefa; para aprender conosco, porque a vivência nos credencia!

Precisamos de pessoas jovens que, de espectadores, passem a atores principais desse processo de educação em prol do Secretariado. Um processo de educação que precisa dar conta de capacitar lideranças jovens que sejam as impulsionadoras das gerações futuras.

A notícia boa é que o Secretariado está sendo presenteado e desafiado com essa crise no momento em que ainda contamos com a presença física desses profissionais sabedores e atores dessa trajetória. No momento em que ainda contamos com jovens se qualificando em nossas instituições de ensino. A profissão tem plenas condições de sair fortalecida. Afinal de contas, o Secretariado é uma organização complexa e adaptável. Claro, porque já mostrou isso ao longo de sua história.

Agora, a pergunta é: Queremos fazer parte da história? Sim, porque a decisão está em nossas mãos.

A sustentabilidade do Secretariado como profissão será garantida com o comprometimento de todas as partes, e à medida que aumentar o grau de pertencimento de cada um de nós. Não podemos deixar essa tarefa para o outro. É nossa! Temos que fazer! E estará comprometida à medida que amolecermos nosso grau de pertencimento.

 

Termino minha fala hoje à noite, perguntando:

 

Para onde você quer ir?

 

Por que não ser um profissional que trabalha pela sustentabilidade da profissão?

Qual é o tamanho de seu desejo de fazer alguma coisa por sua profissão? E não somente por você como Secretária ou Secretário?

 

Aprendi em minha família outra máxima: de nunca deixar a peteca cair quando se acredita em algo. Está em cada um de nós a responsabilidade de deixar ou não a peteca do Secretariado cair.

Boa noite e ótima reflexão para vocês! 

 

REFERÊNCIAS 

 

Brown, Lester R. Plano B 4.0: mobilização para salvar a civilização. São Paulo: New Content Editora, 2009.

D`Ambrosio, Ubiratan. A era da consciência. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 1997.

Wamser, Eliane. A secretária que faz... Blumenau: Nova Letra, 2010.

Zohar, Danah. Capital espiritual: usando as inteligências racional, emocional e espiritual para realizar transformações pessoais e profissionais. Rio de Janeiro: BestSeller, 2006.

 

 

 

 

 

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